Ao planejar um projeto de tecelagem, menos é mais
Há aproximados 30 anos iniciei minha jornada pelos caminhos mágicos da tecelagem. No início, como o conhecimento ainda era pouco, os projetos e criações eram simples.
Assim que fui capaz de dar meus primeiros passos rumo à busca de informações; assim que me tornei autodidata, fui acometida de uma fome voraz por tudo que dizia respeito a tecidos, teares, técnicas de tecelagem, texturas, cores… etc, etc, etc.
Se você se identificou com o relatado acima, provavelmente também está passando por um dilema de querer colocar TUDO o que sabe sobre tecelagem em um único projeto. Não faça isso!
Não coloque todo seu conhecimento sobre tecelagem em um mesmo projeto. Lembre-se: “menos é mais”.
Existem três elementos para um bom design: Cor, Textura e Padrão. Use apenas dois de cada vez.
Prometa que vai pensar nisso toda vez que iniciar um novo projeto em seu tear.
Cor e Textura
Vamos começar pensando na ideia de cor e textura. Apenas cor e textura, sem incluir nenhum padrão.
O tecido resultante do ponto decorativo “Flutuação de urdume em blocos alternados”, em uma única cor tanto na urdidura quanto na trama é um bom exemplo.
As alternâncias entre trama e flutuação de fios de urdume adicionam interesse textural e você pode tecê-lo na cor de sua preferência.
Neste caso, usar uma cor para o urdume e outra para a trama seria uma distração. Essa “distração” roubaria algo dos belos elementos, próprios da estrutura deste ponto.
O mesmo aconteceria se fosse usada uma cor para a trama e várias para o urdume ou vice e versa.
Usar fios de cores variadas em um projeto como o apresentado na figura 1seria uma distração.
Muito embora, o recurso de listras possa ser usado para modernizar designs clássicos de maneira rápida e fácil, é recomendado que o recurso “cor” se mantenha na mesma paleta, variando tonalidades, ou observando atentamente a combinação entre cores e tons. Observe a figura 2.
Textura e Padrão
Na minha opinião, a combinação de textura e padrão é um pouco mais desafiadora.
Suponhamos que você comprou um fio bouclé muito lindo. Neste caso, é possível que a opção mais provável seja de tecê-lo em um ponto tela.
Tudo bem simples para melhor exibir o fio. Talvez uma sarja simples para dar ao tecido acabado um caimento melhor do que seria conseguido se a opção de tecelagem fosse em ponto tela.
É possível escolher fios texturizados que combinem com um padrão. Se o padrão tiver um desenho geométrico limpo e arrojado, um fio texturizado pode adicionar um ponto de interesse a mais ao tecido pronto.
É claro que dúvidas surgirão. E surgirão às pencas!
A melhor saída para dissipar dúvidas é confeccionar amostras e não esquecer que “menos é mais”.
Sempre faça testes antes de começar um projeto. Teste os fios, as cores e os padrões.
Tecer amostras é a forma mais eficaz de testar esses elementos.
Você vai se surpreender com os resultados!
Fica muito mais fácil tomar decisões sobre a escolha de tipos de fios texturizados e combine-los com padrões quando estamos diante de amostras.
Cor e padrão
Os dois elementos finais, cor e padrão, são fáceis para a maioria das pessoas. Combinar cores em um padrão é como mágica para os olhos.
É fácil tecer nossa cor favorita na trama, usando uma urdidura de cor neutra, e às vezes é possível sentir que há a possibilidade de adicionar uma segunda ou terceira cor e tecê-las em áreas específicas do projeto para adicionar interesse ao design. Cuidado! Não deixe que a empolgação te faça esquecer que “menos é mais”.
Estudar (analisar) tecelagens antigas e/ou trabalhos de outros tecelões pode resultar em grande e valiosa aprendizagem.
O recurso da cor na tecelagem pode ser grande aliado do tecelão para obter grande resultado com tecelagem simples. Exemplos disso são os padrões criados com as técnicas “log-cabin” e “pied de poule”.
Basta uma simples escolha de duas cores contrastantes e um padrão de sua preferência e você estará tecendo lindos tecidos. Não são necessários fios texturizados aqui.
Exceções
Sempre haverá exceções. É normal o tecelão olhar para sua amostra quase pronta e se perguntar: “E se eu adicionasse um fio grosso ao urdume e outro fino à trama? E se eu alternasse ideia de cor e trama com cor e textura?”
Quando o tecelão executa essas alterações ele está adicionando um interesse textural à mixagem. Entretanto, isso deve ser feito de forma sutil. Se respeitar a máxima de que “menos é mais”, o tecelão pode obter um resultado final maravilhoso.
Outro ponto a ser considerado é o gosto, a preferência. Eu posso não considerar bonito a combinação das cores roxo e amarelo. Outra pessoa, no entanto, pode gostar dessa combinação.
Por falar em preferência, eu prefiro tecer o overshot no estilo dos séculos XVIII e XIX: cores sólidas em uma urdidura de cor neutra, usando fios sem textura.
E se fios de texturas variadas estivessem disponíveis nos séculos XVIII e XIX? E se fossem adotados pelos tecelões da época?
Em caso de respostas afirmativas para as perguntas acima, eles seriam considerados bonitos agora? Nunca saberemos…
É verdade: não saberemos, mas não podemos esquecer de que alguns dos mestres impressionistas venderam muito poucas pinturas durante a sua vida. O mesmo aconteceu com Van Gogh.
Atualmente, as obras desses mestres estão expostas nos principais museus e são consideradas de valor inestimável. Às vezes leva muito tempo para adotarmos uma nova forma de apreciar a arte. . . ou tecido.
Estudar sobre a combinação e complementaridade das cores é uma atitude sábia. Analisar as diferentes texturas dos fios também é recomendado. Entretanto, use o bom gosto como seu guia principal.
Ao usar o bom gosto, não se esqueça da regra principal: menos é mais.
Conclusão:
A Beleza na Simplicidade – menos é mais
Ao planejar seu próximo projeto de tecelagem, abrace a beleza da simplicidade. Menos elementos, cuidadosamente escolhidos, resultarão em tecidos encantadores. Lembre-se: “menos é mais” é a chave para desbloquear a verdadeira magia da tecelagem.
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