A estrutura de tramas é um dos pilares fundamentais da tecelagem manual. Ela define como os fios da urdidura e da trama se entrelaçam para formar um tecido. Cada estrutura tem suas características próprias e influencia diretamente a textura, a resistência, o caimento e até a aparência visual do tecido.
Neste artigo, você vai conhecer as três estruturas básicas de tramas que todo tecelão, iniciante ou experiente, deve dominar: a trama simples (também chamada de ponto tela), a sarja e o cetim. Essas estruturas não são apenas as mais comuns, mas também servem de base para a criação de padrões mais complexos, como o Overshot, Esmirna, renda e tapeçaria.
Entendendo a fração da estrutura de tramas
Antes de aprofundarmos cada uma das três estruturas de tramas, é essencial entender a chamada “fração estrutural”. Ela aparece em forma de números, como 2/2 ou 7/1, e indica como a trama interage com a urdidura.
O número superior mostra por quantos fios de urdidura a trama passa por cima. O número inferior mostra por quantos fios a trama passa por baixo. Essa informação é vital para o planejamento da sua tecelagem, pois determina o visual e o comportamento do tecido pronto.
Estrutura de tramas simples: o ponto tela
A estrutura de tramas mais conhecida e mais utilizada é o ponto tela, também chamado de trama simples ou “tabby”. Ela é provavelmente a primeira estrutura que você aprendeu a tecer: um fio da trama passa por cima de um fio da urdidura e depois por baixo do próximo. A fileira seguinte faz o movimento contrário.
Por sua simplicidade, essa estrutura cria um tecido simétrico. O avesso e o direito do tecido são idênticos, o que a torna ideal para peças que não precisam de um lado específico. Tecidos com ponto tela têm boa estabilidade, pois os fios estão constantemente entrelaçados.
A estrutura de tramas simples tem como principal vantagem a resistência. Como há muito contato entre urdidura e trama, o tecido final é firme, uniforme e com pouca tendência a deformações. Se fosse representada por uma fração, ela seria 1/1.
Essa estrutura também é a base da tapeçaria. Quando usamos fios descontínuos de trama em áreas específicas do tecido, criamos imagens, texturas e volumes. É um universo criativo riquíssimo, que permite explorar técnicas decorativas com profundidade.
A versatilidade da estrutura de tramas sarja
A sarja é a segunda estrutura de tramas mais comum no mundo têxtil. É marcada por sua diagonal característica, que se forma quando a trama flutua sobre dois ou mais fios de urdidura e passa por baixo de outros dois ou mais, em um padrão que se desloca a cada fileira.
A sarja 2/2 é o exemplo clássico. A trama passa por cima de dois fios da urdidura, por baixo de dois, e na fileira seguinte o ponto se desloca para criar a diagonal. Essa estrutura de tramas permite criar tecidos mais densos, com ótimo caimento e muito conforto ao toque.
O exemplo mais famoso de sarja? O jeans! Observe com atenção o avesso de uma calça jeans e note como os fios formam linhas diagonais. Esse é o padrão clássico da sarja em ação.
Além disso, a estrutura de tramas sarja possibilita uma variedade de padrões visuais como a sarja invertida, espinha de peixe e chevron. Basta alterar a ordem dos fios, a direção dos flutuantes ou a quantidade de deslocamentos no padrão.
A sarja é ideal para tecidos que precisam de resistência aliada ao movimento. Ela é usada para roupas do dia a dia, peças de decoração e acessórios que exigem durabilidade, como bolsas e almofadas.
Estrutura de tramas cetim: brilho e sofisticação
A estrutura de tramas cetim é conhecida por sua elegância. Sua característica principal são os longos flutuantes: a trama passa por cima de muitos fios de urdidura antes de passar por baixo de apenas um. A fração típica é 7/1, 6/1 ou 5/1, com o número inferior sempre sendo 1.
Essa longa flutuação cria uma superfície lisa, brilhante e com caimento fluido. É por isso que tecidos com estrutura de cetim são tão valorizados em roupas de festa, roupas íntimas e artigos de luxo.
No entanto, esse brilho vem com um custo: a delicadeza. Tecidos com essa estrutura de tramas são mais propensos a puxar fios, enroscar e desgastar com o tempo. Por isso, devem ser usados com cuidado e em peças que não exigem alta resistência.
É importante lembrar que cetim não é uma fibra, e sim uma estrutura de trama. Você pode ter cetim feito de seda, de poliéster, de algodão ou de lã. Cada uma dessas fibras dá ao tecido características únicas. Um cetim de seda, por exemplo, terá mais brilho e suavidade que um de algodão.
A importância da estrutura de tramas no design do tecido
Saber identificar e utilizar corretamente cada estrutura de tramas é um passo essencial para quem deseja se profissionalizar na tecelagem manual. Além de influenciar a estética, cada estrutura determina o uso ideal do tecido: decoração, vestuário, arte ou utilitários.
Quer criar uma peça resistente para o dia a dia? Use ponto tela. Deseja um caimento elegante com um toque luxuoso? Experimente o cetim. Precisa de uma base estável e versátil para padrões elaborados? Vá de sarja.
Além disso, dominar a estrutura de tramas abre caminho para você entender estruturas mais complexas. Técnicas como Overshot, Summer & Winter, Monk’s Belt e diversas rendas tecidas só são possíveis quando você já domina bem as estruturas básicas.
Estrutura de tramas como base para criatividade e independência
Na tecelagem manual, a estrutura de tramas é muito mais do que técnica: é liberdade criativa. Quando você entende como urdidura e trama se encontram, você ganha poder para criar tecidos únicos, personalizados e autorais.
E mais do que isso: dominar essas técnicas pode ser uma porta de entrada para sua independência financeira. Muitas mulheres encontram na tecelagem uma fonte de renda, um respiro terapêutico e uma forma de preencher seus dias com arte, propósito e beleza.
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